segunda-feira, junho 21, 2010

Crônica 03


(foto: Mario Gordilho - "Igreja de Nossa Senhora da Penha, Praia da Penha, Ilha de Itaparica - Bahia", 2010)

A IGREJA, O CAVALO E O MAR

Deparei-me com um quadro. Uma visão natural. Uma paisagem real... bela, singela e tranquila, de certa forma, até bucólica. Fotografei tomado pela emoção que aquele panorama me causou. Penso que é por isso que fotografamos. Quando somos tocado pelo momento. Quando os fatores externos e internos interagem provocando na gente essa vontade impulsiva de querer registrar um instante para a eternidade, driblando o imbatível tempo. Algumas pessoas não entendem o motivo de certas fotos terem sido tiradas. Elas nunca vão entender. Ninguém nunca vai entender, além do fotógrafo. A vista era simples, mas me tocou. Apenas uma igreja, um cavalo e o mar.

Deparei-me com a foto. Uma igreja, um cavalo e o mar. Por que quis guardar aquilo? Comecei a analisá-la. Bem, no meu processo assimilatório, separarei cada item. O que tem a ver uma igreja com cavalo, o cavalo com o mar, e a igreja com o mar? A priori, nada. O templo religioso destina-se a pregação. O cavalo lembra a vida no campo. O mar, a descontração do litoral. Não tinham muito em comum. Tinham sim. Eles estavam ali, naquele exato momento, para eu poder enxergá-los, não apenas para admirá-los. Eles me despertaram um sentimento que só agora percebi. Precisava registrá-los, mesmo inconscientemente. Eram os símbolos da minha vida.

O mar sempre fora meu berço, meu porto seguro, minha fuga para a paz interior. Nasci junto ao mar. O cavalo, a pouco tempo descobri, me proporciona uma sensação plena de liberdade. Nada me faz sentir mais livre do que galopar velozmente e sentir o vento tocar a minha face. A igreja. O que seria de mim sem a minha fé? O que seria do homem sem a sua crença? Precisamos sempre acreditar em algo para podermos dar sentido às nossas vidas. A fé é o instrumento crucial que desperta em nós a vontade de seguir. Estimula a nossa força de viver.

A igreja, o cavalo e o mar se convergiram num instante para me mostrar que a vida vale a pena, que tudo é possível. Tudo, desde que tenhamos a nossa paz, a nossa liberdade, e a nossa fé espiritual.

(texto: Mario Gordilho)

Música: "Casinha Branca" - Gilson (1979)

Nenhum comentário: