sexta-feira, março 16, 2012
Crônica 25
(foto: web - "Cena do Filme 'O Artista/The Artist', 2011")
CALA BOCA EM PRETO & BRANCO!
Acabo de chegar do cinema. Saí da sessão boquiaberto. Que filme! “O Artista” (2011). Protagonistas desconhecidos, coadjuvantes de peso. Uma obra-prima francesa merecidamente premiada em cinco categorias no Oscar de 2012.
Nesse ano os votantes da “The Academy of Motion Picture Arts and Sciences” tiveram tato ao eleger um filme em preto e branco, e mudo (em sua grande parte), como vencedor da categoria de melhor filme. Era preciso quebrar o tabu de que películas com tais atributos são ultrapassadas, antiquadas, mortas. Tal atitude de escolha dessa obra silenciosamente rica, serviu como um verdadeiro “cala boca” às platéias preconceituosas e desinformadas que hoje predominam nas salas de cinema, além de um alerta aos cineastas, para que concebam suas obras com mais arte e menos artifícios.
“O Artista” nos passa reais dilemas vividos na Hollywood dos anos 20 e 30 – era da transição do cinema mudo para o sonoro. Os dois esplêndidos intérpretes franceses, Jean Dujardin e Bérénice Bejo, absorvem e repassam fortes emoções comuns nas pessoas que viveram no meio cinematográfico daquela época. Apesar de praticamente desconhecidos para grande público, ambos conseguem conquistá-lo não apenas pelo talento, mas principalmente pelo grande carisma que transmitem.
Nos tempos de “As Aventuras de Tintim” (2011) de Spielberg, em que a computação gráfica atinge o clímax dos efeitos especiais, tornando quase humanos os personagens da ficção, precisávamos dessa reação enérgica do júri, para resgatar o cinema original. Mostraram para o mundo que essa arte existe por e para as pessoas, sensibilizadas com as ações e reações humanas expressadas na tela, independentemente da exuberância da imagem e da alta qualidade do som com que é elaborada.
Ora sinto-me aliviado diante desta atitude dos críticos cinematográficos ao apoiarem, quase que unanimemente, o verdadeiro cinema, boicotando, com a mesma intensidade, a assombrosa tecnologia vigente (“As Aventuras de Tintim” não recebeu nenhum Oscar), certamente para nos mostrar que o artista é e sempre será o principal fator da existência da sétima arte, aliás, em qualquer expressão artística.
(texto: Mario Gordilho)
Música: "Charleston" - Enoch Light & The Light Brigade (1971)
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