sexta-feira, março 11, 2011

Crônica 17


(foto: Mario Gordilho - "Flor da Árvore Abricó-de-Macaco", Rio de Janeiro, 2011)

MACACOS NA FOLIA

... E o Rio de Janeiro continua lindo! Estive lá nesse Carnaval de 2011. Fazia tempo que não ia ao Rio. Da última vez, foi coisa rápida, prestei uma prova pra concurso, não durou dois dias. Desta vez, desfrutei o máximo dessa Cidade Maravilhosa!

Fui tocado pelo lugar que exalava o clima carnavalesco por todos os seus poros e foros. A urbanidade do carioca, a organização e a limpeza da cidade, além da ausência de violência, eram constantes. Notei um povo que ama de verdade o seu Carnaval, de todo coração! Que renega suas dores e mágoas para não deixar a tristeza tomar conta da festa. Nas bandas e praias coloridas e superlotadas de Copacabana e Ipanema, e até no desfile na Sapucaí, em qualquer destes lugares me senti seguro, tranquilo e feliz. A animação dos foliões cariocas é realmente contagiante!

Mas de todas as belezas do Rio que pude usufruir, destaco dois grandes momentos... Não sei se foi pela temporada fervente de folia, ou se é algo típico do povo carioca, mas me surpreendi quando vi a sol aberto o amor - em todas as suas formas e nas cores do arco-íris - ser respeitado, aplaudido e abraçado. Confesso que, pela primeira vez, estive em um lugar onde existe uma consideração pelo ser humano de forma explicita e limpa. Onde os gays, lésbicas, héteros, negros, brancos, índios, asiáticos, feios, belos, católicos, judeus, hindus, ateus, pobres, ricos, estrangeiros, brasileiros, deficientes, ou não, são tratados por igual, sem qualquer distinção. Fiquei maravilhado com essa atitude de aceitação e de recepção nessa Cidade Maravilhosa!

... E em um dos meus passeios "off Carnaval" pela cidade, tive a outra surpresa de conhecer algo que também nunca vira em outro lugar. Uma planta que deveria ser um símbolo do Rio de Janeiro, não só por sua beleza e cores, mas por estar por toda parte, seja na Orla do Flamengo, no Largo do Machado, ou no Jardim Botânico, ela estava lá, robusta, gigante, colorida, bela e exótica.

Apenas uma coisa me decepcionou nessa minha jornada carioca. A grosseira atitude da mídia local ao criticar o desempenho do desfile de certa Escola de Samba, inclusive valendo-se da primeira página de um grande jornal da cidade. Penso que, em época de Carnaval, as notícias cariocas jamais deveriam denegrir a imagem do bem maior da festa, que são as suas Escolas de Samba. Certamente, nenhuma Escola erraria ou atrapalharia o desfile na Marquês de Sapucaí, intencionalmente. Qualquer incidente que tenha ocorrido durante tal evento nunca poderia ter sido tratado como “pagação de mico”, de King Kong, ou de qualquer outro símio presente na avenida.

Ao invés de desrespeitar a cultura carioca, a mídia deveria sim vangloriá-la, impassivelmente, e até expandi-la. Divulgar para a multidão turística que visita a cidade nesta época, não só o seu Carnaval – que o mundo inteiro já conhece – mas também as suas coisas singelas, embora sublimes, como a tal planta que me encantou, e que por ironia chama-se “Abricó de Macaco”.

(texto: Mario Gordilho)

Música: "Cidade Maravilhosa" - de André Filho, por Banda Carnavalesca Cidade Maravilhosa (1981)

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