sábado, fevereiro 25, 2012
Crônica 16
(foto: web)
A CAMINHO DA ESCOLA
Rosa, mãe prestimosa, madrugava todo santo dia para levar o seu filho Júnior à escola.
Tudo seria um “mar de rosas” naquela rotina da jovem mãe Rosa com o seu filho de oito anos, se eles não se deparassem com aquele Fusquinha Azul Marinho em determinado trecho do percurso para a escola. Parado no final de uma subida após uma curva acentuada, o fusca impedia a ultrapassagem de qualquer veículo que viesse atrás, e quase sempre era o Passat Azul Royal de Rosa. Quando chegava o tal momento de encontro com o Fusca, Rosa perdia totalmente o seu sono, já interrompido pela sua obrigação matinal.
Dirigido por uma senhora que parecia ser bem baixinha, pois ficava tão escondida dentro do seu carrinho que mal dava para ver a sua cabeça, o tal Fusca Azul Marinho recuava tão bruscamente na sua arrancada da parada diária no aclive, que assustava, com uma ameaça de choque, qualquer motorista estivesse na sua traseira, geralmente o Passat Azul Royal de Rosa.
Certo dia, não bastasse o regular contratempo que provocava, o perturbador veículo achou de descer tanto na sua partida do aclive que acabou por atingir o pára-choque dianteiro do Passat Azul de Rosa. Mesmo num rápido movimento de engate da marcha-ré, ela não conseguiu evitar a colisão. Ah!... Rosa ficou furiosa com aquela desconhecida motorista, que já estava a léguas do local.
- Mulher é barbeira mesmo, não tem jeito não! Tem é que ficar em casa no pé do fogão! - Resmungou Rosa, impensadamente, se esquecendo que agredia o seu próprio sexo - Qualquer motorista que se preze teria tentado a meia-embreagem - Completou ela jurando que no dia seguinte tiraria uma satisfação junto àquela estranha irresponsável, apesar dela não ter-lhe causado nenhum estrago no incidente.
Pobre Rosa... naquela noite mal dormiu pensando na manhã seguinte encontrar a senhora do Fusca para “ir à forra” por toda aquela situação insuportável. Madrugou mais cedo do que o normal juntamente com o seu fiel escudeiro Júnior, que tinha que acompanhá-la obrigatoriamente na sua vingança... E partiram para a batalha!
Lá estava o velho Fusca no seu habitual local de parada, e Rosa, cautelosa, manteve-se bem mais afastada do veículo adversário do que o de costume. Quando o Fusquinha arrancou do alto do aclive, Rosa imediatamente o seguiu, “passo-a-passo”, até o carro chegar ao seu destino.
- É agora que vou dar o bote! - Pensou alto a Rosa ao ver o Fusca estacionado.
Já com a mão na maçaneta interna da porta do seu Passat Azul Royal, algo a surpreendeu... A porta do Fusquinha Azul Marinho se abriu lentamente e um par de prateadas e reluzentes muletas se lançou para fora do veículo, como verdadeiras espadas de aço clamando por vitória. Logo em seguida saiu, com muita dificuldade, uma mulher hemiplégica. Rosa ficou pasma com o que assistia. Não conseguia conter as lágrimas que brotavam dos seus olhos. A sua vilã, instantaneamente, tornou-se uma heroína. Todo o ódio que sentia pela mesma transformou-se em compaixão.
- Mãe, anda logo! Vamo embora, tô atrasado pra aula! - Bradou Júnior percebendo o grande constrangimento pelo qual a sua mãe passava. E os dois seguiram mudos a caminho da escola...
(texto: Mario Gordilho)
Música: "Bevete Più Latte!" - Nino Rotta (1962)
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