sexta-feira, julho 16, 2010

Crônica 05


(foto: web - "Nara Leão e Chico Buarque de Hollanda", 1966)

DOCE BANDA DA MINHA INFÂNCIA

Ontem baixei uma música na Internet. Dentre algumas que tenho encontrado ultimamente, esta é muito especial. “A Banda” de autoria do genial Chico Buarque e imortalizada pela “Musa da Bossa Nova” Nara Leão no Festival de MPB (Música Popular Brasileira) de 1966, quando conquistou tanto o melhor prêmio do festival, como também o grande público brasileiro.

Sensibilizei-me ao reouvir “A Banda”. Ela me leva à minha infância, apesar de a mesma ter surgido alguns anos antes de mim. Nos anos 70 (cerca de dez anos após o seu lançamento) esta canção ainda cativava a todos (crianças e adultos) quando tocada em bailes de carnavais, festas de aniversários, circos, espetáculos teatrais, ou até mesmo num mero radinho de pilha.

Composição atemporal, e de um verdadeiro mix temático, retrata tanto os fatos comuns do cotidiano social, como também a profunda ilusão das pessoas ao se animarem, instantaneamente, vendo a banda passar, deixando de lado os mais sérios dos seus problemas. “A Banda” também aborda comportamentos sociais de diversas faixas etárias, como as traquinagens da criançada, os delírios de jovens enamorados, os truques de adultos materialistas, e os arrojos de idosos incansáveis. Talvez, esse pluralismo de conteúdo, seja o segredo desta música ainda tocar no som e no coração de tanta gente nos dias de hoje.

Sua doce melodia, meio circense, meio carnavalesca (refiro-me aos velhos carnavais, e não aos axés de agora), é outro componente que torna “A Banda” uma obra singular e envolvente, ainda mais na deliciosa interpretação de Nara, com sua voz meiga e delicada. A música e a musa foram feitas uma para a outra.

Inebriado pelo meu inesperado reencontro com “A Banda”, o que mais me emociona é o fato de ela me transportar para uma época de pureza, alegria e fantasia, quando convivi com meus avós, pais, tios, primos e amigos, enfim, toda a minha família, que o tempo tratou de diluir ao longo desses anos. Ouvindo-a, imediatamente me aproximo de todas estas pessoas (mesmo as que já partiram), que habitarão eternamente o meu coração. É como se essa trupe despertasse dos meus sonhos, saudades e pensamentos, para ver a banda passar... tocando coisas de amor...

(texto: Mario Gordilho)

Música: "A Banda" - de Chico Buarque de Hollanda, por Nara Leão (1966)

Um comentário:

Unknown disse...

Mário, a sua abordagem sobre o momento da MPB, em especial, a BANDA, eu me transportei a um passado não tão distante, mas de boas lembranças onde o amor era cantado em versos e prosas. A família, o respeito tinham uma importância inquestionável e os valores morais e éticos existiam. Hoje, a inversão de valores vem se instalando e deturpando o verdadeiro significado desses valores. Ana Maria