terça-feira, novembro 15, 2011

Crônica 22


(foto: web)

RUGAS, PRA QUE TE QUERO?

A velhice é inevitável. É coerente tentarmos retardá-la, mas ilusório tentarmos ocultá-la.

Não recrimino qualquer tipo de decisão em relação à conservação da estética pessoal. Tratamentos com botox, ou outros químicos, atividades físicas, implantes de próteses, cirurgias plásticas rejuvenescedoras ou corretivas, coloração dos cabelos ou tratamento contra calvície, tudo isso é logicamente aceitável para nos sentirmos melhor, principalmente para aquelas pessoas que vivem da aparência, como artistas e modelos, mas deve ser feito com moderação. Por mais que nos estiquemos ou nos exercitemos, o nosso corpo tem um limite, e um dia ele pode entrar em colapso. Antes que seja tarde demais, temos que nos atentar para os exageros a que submetemos nossa aparência. Arrependimento não retrocede o tempo, nem cura nossas feridas. As cicatrizes ficam conosco até o fim.

A maioria dos jovens de hoje não estão nem aí para a velhice, pelo contrário, eles agem como se fossem viver apenas uma década à frente, envelhecer está fora de questão. Viver o agora, intensamente e irresponsavelmente, é o que ocupa a consciência juvenil. A rotina da juventude atual é um malabarismo entre ser saudável e bonito, e curtir livremente tudo o que se tem direito. Academias, anabolizantes, estimulantes sexuais, complementos alimentares, fumo, alucinógenos, álcool, baladas, dietas, soníferos, esportes, tatuagens e piercings, intervenções estéticas, sexo desenfreado, drogas emagrecedoras, energéticos, compõem o verdadeiro mix que preenche o universo desses garotos, e que certamente vai lhes proporcionar uma velhice bastante fragilizada (para os poucos heróis que conseguirem atingi-la), muito além do próprio estrago natural que o irremediável tempo lhes fará.

Temos que estar preparados para encararmos a velhice. Vamos nos sentir rejeitados pela falta de disposição ou flacidez da aparência, e teremos que saber viver (e não apenas sobreviver) com tal situação. Pior ainda se não tivermos a sorte de estarmos acompanhados nesse momento da vida, quando somaremos à senilidade, a solidão. A saída não vai estar na recauchutagem, nem nos medicamentos, nem em disfarce algum. A saída está dentro de nós, em nossas escolhas, no que vamos construindo gradativamente para o nosso ser, para a nossa alma, através da absorção em massa de conhecimentos, da prática consciente de exercícios físicos e intelectuais. Assim vamos formando o nosso caráter e conquistando a nossa paz interior.

Somos os principais responsáveis para alcançarmos uma velhice tranqüila, digna e saudavelmente ocupada. As nossas atividades intelectuais jamais nos serão subtraídas, enquanto possuirmos a benção da razão e, no caso dessa razão se estagnar, não mais teremos consciência para nos sentirmos frustrados ou amargurados, apenas causaremos comoção aos que nos cercam. Na vida sempre haverá limitações, o nosso consolo é termos a plena certeza de que não envelhecemos sozinhos.

(texto: Mario Gordilho)

Música: "Tempo Perdido", por Legião Urbana (1986)

2 comentários:

sabedoria interior disse...

Gostei muito Mário,mandou muito bem,Você é fantastico,bjos.

MARIO GORDILHO disse...

Valeu amiga! Bjao