
(foto: web - "Close de Elizabeth Taylor")
ADEUS ÀS ILUSÕES*
A Elizabeth Taylor
Surpreendi-me hoje com uma triste notícia: Elizabeth Taylor morreu! Algo difícil de digerir para qualquer apreciador do cinema, e para um cinéfilo, como eu, isso bate bem forte. Representa a extinção gradativa da safra dos bons. Desses detentores de grande carisma e talento, que nos entretêm através do ilusório, mas essencial, mundo do cinema.
Grande atriz, de origem inglesa e radicada nos EUA, Elizabeth Taylor, ou simplesmente Liz, como era carinhosamente tratada pelos seus adoradores e amigos, foi uma autêntica estrela de Hollywood dentro e fora das telas. No seu rastro cintilante, do qual ora se desprende, a atriz viveu como uma deusa, com sua beleza, talento, amores, fama, casamentos, escândalos, dores, riqueza, caridades, luxo, crises, glamour, brilho e excentricidades... o legado de diamantes que deixou podem atestar tudo isso.
Hoje em dia, o mercado cinematográfico, ou de interpretação, se mostra disperso, embora amplo. A cada minuto vemos novos e numerosos rostos nas telas, sendo impossível se cultivar uma forte idolatria por um certo ator ou atriz. Inseridos nesse universo de milhares, os artistas atuais, mesmo entrando em voga instantaneamente, saem desta com igual velocidade. Não quero dizer que não possuam talento, muitos o tem até em mais de uma arte, mas, por mais que se esforcem, não conseguem brilhar por muito tempo, sempre surgirão novos "astros" para ofuscar os que estão no auge. Assim está sendo a lei do sucesso. Nessa realidade dinâmica, não dá pra se construir ídolos como os de outrora, que se mantinham na fama por décadas a fio, com atributos tão peculiares que extrapolavam a sua própria beleza. O rumo que a mídia vem tomando jamais permitirá o surgimento de mitos como Elizabeth Taylor.
Liz Taylor partiu! Pra quem ainda tinha a mera ilusão de poder vê-la nas telas expressando mais uma vez o seu imenso talento, como uma senhora quase octogenária de belos olhos “cor de violeta”, eis o desapontamento! Restam, à sua comovida multidão de fãs, as espetaculares lembranças através das densas personagens que interpretou. Com a sua ida dissipa-se parte da fonte de magia que ainda dispomos: o cinema.
Entristeço-me quando vejo os nossos astros partirem, mesmo sabendo que vão para o seu verdadeiro lugar: o céu, onde nunca se apagarão. Ainda assim entristeço-me, pois aqui ficamos desfalcados dos seus brilhos, cada vez mais raros. Lá é diferente, é distante, apesar de eterno... Além disso, tal situação também me preocupa, pois precisamos do encantamento de estrelas, como Elizabeth Taylor, para vivermos melhor, estimulando nossos sonhos. Não podemos dar adeus às nossas ilusões.
(texto: Mario Gordilho)
* "Adeus às Ilusões/Sandpiper" (1965) é o título de um dos filmes da atriz.
Música: "The Shadow of Your Smile" - de Johnny Mandel e Paul Francis Webster, por Jack Sheldon (1965)
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