sábado, outubro 16, 2010

Crônica 11


(foto: Daniela Gordilho - "Vulto de Mario Gordilho", 2009)

MANIFESTO DE QUALQUER UM

Antes de abordar o tema central deste texto, eis algumas observações quanto à escolha do seu título. Inicialmente pensei em usar “MANIFESTO DE UM HOMEM LIVRE”, mas seria muita pretensão minha considerar-me um homem plenamente livre, pois, como a maioria dos homens, possuo uma liberdade relativa. Tenho minhas obrigações a cumprir, seja com meu trabalho, com minha família, com a sociedade, enfim, com o mundo. Não posso decidir de uma hora para outra ir à Bali ou ao Alasca; não posso largar meu emprego sem ter outro meio de vida; e nem presenciar uma corte judicial trajando sungão. Assim, apesar de dispor de minha total liberdade de direito, de fato ela é bem mais contida.

Também pensei em batizar esse texto como “MANIFESTO DE UM PERDIDO”, só que seria exagero rotular-me como um ser perdido. Confesso que ultimamente ando meio atordoado com os acontecimentos e comportamentos do mundo e das pessoas, mas eu sei o eu quero pra mim, sei o que e quem gostaria de ter comigo, tenho planos para o meu futuro, apesar de ainda não ter alcançado todas as minhas conquistas, principalmente, as do meu eu, mas como já sei que direção seguir, sinto-me excluído desse grupo de homens perdidos.

"MANIFESTO DE QUALQUER UM" acabou sendo o título escolhido para o que relatarei a seguir. O que escreverei? Bom, ainda não está tudo bem estruturado na minha mente, mas só o fato deu estar aqui, como um mero mortal, digitando essas palavras, que para muitos poderão ser pura baboseira, já é meio caminho andado.

Recentemente andei conhecendo lugares, culturas e pessoas diferentes das que costumo conviver, e cheguei à frustrante constatação de que tudo está igual. Os homens estão agindo de maneira similar em qualquer parte do planeta. Seja em Salvador, São Paulo, Vila Velha ou Buenos Aires, as pessoas se comportam com tamanha ansiedade, achando que podem fazer tudo o que querem em apenas um segundo, deixando de lado os seus mais básicos princípios éticos e morais. Talvez seja efeito da globalização e da sua consequente revolução da informação. Em instantes podemos contactar alguém da Finlândia ou do Japão e saber o que essa pessoa curte da vida ou o que pretende fazer no sábado seguinte. Seria interessante se nós usufruíssemos tais possantes ferramentas de comunicação para nos aprimorarmos e nos valorizarmos, mas isso não está ocorrendo. Nós estamos nos tornando seres cada vez mais egoístas, frios e isolados, em incansável busca de algo ou alguém fantasticamente ideal.

Surpreendo-me quando saio à noite, em bares ou baladas, conheço uma pessoa, e vejo que, por mais que eu me esforce, por mais que me esmere, não sou o seu alguém ideal, aliás ninguém está sendo o ideal de ninguém. Relações de casamento, namoro ou qualquer outra união, aberta ou fechada, já não são levadas a sério. Mesmo compromissadas, grande parte dessas pessoas se iludem numa busca desesperada de um alguém melhor do que o que já têm. Já os disponíveis se portam em latente estado de análise e degustação social, as vezes por um longo tempo, mas mesmo quando encontram a sua suposta cara-metade, despacham-na logo ali mais à frente... "deve haver alguém melhor pra mim".

É desanimador ver esse atual comportamento global-social, e eu sei que não estou fora dele, estou nele, e sinceramente não sei o que fazer para sair dele. Entro na internet, nesses vários sites de relacionamentos, e vejo uma verdadeira multidão de pessoas carentes e sós. Pessoas que, na sua maioria, têm alguém ao lado, sejam parceiros, pais, avós, filhos, parentes, mas que se isolam na frente do computador atrás de alguém melhor. Será que esse alguém existe? Pode até ser, mas e se não o achar? Quem vai fazer o tempo retroceder pra permitir que você volte a conviver com seu filho que cresceu, com seu pai que partiu, ou com seu amigo que sumiu? Quem ou o que fará isso acontecer? Nada, nem ninguém. Só você pode deixar de ficar perto de quem está longe e de ficar longe de quem está perto de você. A escolha é sua.

Mais uma coisinha, vamos ser mais flexíveis e fiéis com nossa estética natural, maneirando as nossas autoexigências físicas focadas nos ditames da moda ou da mídia em voga. Uma dieta, um treino ou uma plástica de retoque ainda vai, mas sem exageros! Não vamos nos espelhar em uma Gisele Bündchen, nem em um David Beckham. Vamos nos aceitar e aprendermos a nos cuidar sem distorções para evitarmos que a sociedade não se torne uma produção em série de pessoas forçosamente "botocadas", esticadas ou pigmentadas, como verdadeiros clones dos quais nem a real idade conseguimos identificar.

Vamos refletir e encarar essa nossa vida real, naturalmente, amando-nos e aceitando-nos como somos, e fazendo o mesmo com quem nos cerca. Pratiquemos nossos hobbies preferidos sem seguir os modelos dos outros, seja futebol, costura, reza ou trilha. Deixemos nosso carro na garagem, indo a pé às ruas, à farmácia, ao banco, à praia ou ao supermercado. Assim encontraremos as pessoas nas suas rotinas normais. Quem sabe em uma certa fila não deparemos com o nosso alguém ideal? Mas temos que nos manter atentos à nossa volta, e não com a cabeça no mundo cibernético ou da mídia. Portanto, deixe de acreditar que aquela sua amiga virtual de muitos anos, e que é ginasta na Romênia, largará tudo lá, um belo dia, e virá ao Brasil pra ficar com você. Ela pode até estar dizendo a verdade, e achando que realmente virá, mas é meio difícil... nem português a moça fala!

(texto: Mario Gordilho)

Música: "S.O.S." - Raul Seixas (1974)

4 comentários:

sabedoria interior disse...

Oii Mário,hoje andei,tendo uns estress,nada que nao possa ser resolvido,mas que as vezes a gente acaba se tornando meio que atormentada,mas derrepente abri o pc,e fui dar umas navegadas,e acabei encontrando sua página, acredite se quiser,tudo que vc escreveu,é mesmo uma grande verdade,a´te me voltou o ânimo,coisa verdadeiras,e também muito engaraçada,rssss vc ´,é um ser muito divertido,apesar de estar do outro lado do mundo,eu gosto muito de ler seus textos,depois escrevo mais,nada é perfeito nesse mundo real,ou virtual,os riscos sao os mesmos,cara so posso lhe falar,vc é muito verdadeiro naquilo que escreve, fika na paz,nada melhor que um dia após o outro, ou pior,rsssss bjo.

MARIO GORDILHO disse...

Oi, amiga! Fico triste por tua momentânea tormenta, e feliz por está te ajudando como posso, através dos meus textos. Sou muito grato a ti por seu interesse no que escrevo, que tenha certeza é de pura alma e coração. beijao (se me permite), Mario

sabedoria interior disse...

Com pura alma,e coração podes ter certeza,,um bjo no seu coração.

Anônimo disse...

... Outro blog que aborda coisas até bonitas. Chega de tanto ARTISTA!
Na imagem 1a acima, uau: e mal dá para ver.
A vida precisa de coisas assim (REFLEXÕES).