Crônica 09

(foto: Mario Gordilho - "Autoretrato com vista ao fundo da Rua Corrientes, Buenos Aires - Argentina", 2010)


MI BUENOS AIRES QUERIDO!

Estive lá. “Mi Buenos Aires querido”, 30 anos depois, estive lá. E sabe da maior? Continua a mesma. Com seu povo, com seus museus, com sua cultura, com sua história, com sua Evita, ou seu Gardel...

Sim, o patriotismo dos argentinos é de dar inveja. Eles veneram tudo o que foram, são e serão. Desde suas festas até suas perdas. E é essa tal idolatria ufanista que atrai curiosos de todo o mundo. Seja na orla de Puerto Madero, nas baladas de Palermo, no cemitério da Recoleta, na feira de San Telmo, nas lojas da “Calle Florida”, nos monumentos, “plazas”, tangos, em tudo você respira e transpira Buenos Aires, Argentinos e Argentina.

Uma nação que já passou por tantos golpes, transformações e crises político-econômicas, que veio de uma exótica miscigenação de judeus, espanhóis e ameríndios, mantém sua cultura intacta desde os seus tempos de glória. Sua rica arquitetura, sua forte tradição, nada mais é do que a resposta de um povo que vive para a autovalorização, e que nos proporciona essse clima repleto de diversão e informação, onde a cada esquina usufruímos de lojas de livros, músicas e antiguidades, onde a cada canto absorvemos bons ares... Buenos Aires!

Valendo-me das palavras da própria Eva Perón: “No llores por mí Argentina”, atrevo-me a aplicá-las, não como uma exaltação de orgulho perante a crise de um Estado, mas rendendo-me ao meu próprio orgulho, expressando a minha vontade de retornar a esse encantado lugar que acabo de deixar. Sei que o farei de novo, e em menos de 30 anos, por isso, Evita, não chorarei por sua Argentina, desde que aceite de volta esse saudoso turista, ou como disse o grande Carlos Gardel, desde “El día que me quieras”.

(texto: Mario Gordilho)

Música: "Mi Buenos Aires Querido" - de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera, por Diego Solís (2003)