Crônica 07

(foto: web)

DIZEM

Dizem que amigo é pra essas coisas. Que coisas? Amigo é pra tudo! Pra qualquer coisa, qualquer pessoa, a qualquer hora e em qualquer lugar.

Dizem que amigo é pra sempre. Claro, a amizade é algo que se transporta além desta vida aqui. Ela, a verdadeira, está impregnada na alma das pessoas, e suplanta até os laços de família. Existem parentes amigos e os “apenas” parentes.

Dizem que os amigos são a única coisa que deixamos quando partimos. Na verdade, nós não deixamos ou levamos nossos amigos. Algo sempre provará que uma amizade existiu: a lembrança. Nós ficaremos eternamente na lembrança de uma real amizade que se consumou em algum momento das nossas vidas.

Dizem que o cão é o melhor amigo do homem. Bom, isso é conversa de solitário carente. Trate de cuidar do seu cão, que certamente não sobreviverá sem os seus cuidados, e provavelmente nem a você, mas não se esqueça de que seu cão não o perpetuará. Não haverá recordações por parte dele, por mais que ele se apegue a sua pessoa. Ele não propagará o ser humano que você foi. Se você quer ser lembrado, trate de lutar por um amigo, meu irmão, antes que seja tarde!

Essas observações, que soam até meio piegas, só alertam o valor de um amigo. A amizade é algo mais precioso que existe na face da terra, e sabe por quê? Porque ela é gratuita. Uma preciosidade gratuita, que paradoxo, mas é isso mesmo! Entre amigos não há obrigações nem troca de interesses, apenas são amigos, ou não.

Hoje, nesse mundo cada vez mais impessoal onde as pessoas se voltam tão somente para seus próprios anseios e desejos, é luxo, dos mais caros, se achar alguém que se importe com você. É raro se ter um amigo. As pessoas estão tão superficiais consigo e com o outro que põe a amizade no rol das extinções, e nem nos damos conta do quanto precisamos de alguém sincero ao nosso lado. Daquele apoio espontâneo, fortuito, genuíno com o qual podemos contar a qualquer instante, pois de nada sabemos do nosso depois, e é certo que em algum momento de nossas vidas precisaremos de um ombro amigo, ou melhor, de um amigo inteiro. Por isso é bom tê-lo agora.

Garimpando hoje o universo dos meus conhecidos, vejo que possuo alguns poucos amigos. Uns de longas datas, outros de curtíssimo tempo. Uns parentes, outros encontrados nas tortuosas trilhas da vida. Eu os enxergo, e eles a mim. Ultimamente me esbarrei com mais um, o qual me inspirou a escrever tudo isso. Nem preciso mencioná-lo, pois, como meu amigo, ele se reconhecerá aqui. Que sorte a minha, a nossa!

Sem amigos estamos sós, e a solidão é algo devastador para o homem. Precisamos de alguém para conversar, brincar, brigar e amar. Amor de amigo é um amor eterno e assexuado. Sem pretensões a não ser do gostar mútuo de almas. A amizade é rara e pura, sem mensuração ou planejamento. Nós simplesmente nos sentimos amigos.

Sabe quando constatamos que temos um amigo? Parece difícil o distingui-lo, mas é possível. Olhe nos gestos bons, os mais sutis e, ao mesmo tempo, os mais autênticos de quem está à sua volta, então poderá enxergá-lo. Mas não falo só do agora. Olhe para trás e veja quem foi aquele que sobreviveu com você em toda a sua trajetória de vida, desde o primeiro encontro, até hoje, ou o além. Estando com você, de perto ou de longe, mas sempre estando, com aqueles mesmos gestos... Aí está o seu AMIGO!

(texto: Mario Gordilho)

Música: "Amigo do Sol, Amigo da Lua" - Benito di Paula (1985)