(foto: G. Lacerda - "Mario, Gustavo e Gabriel", 2006)
SER PAI, SER FILHO
“Papai, fiz xixi” ouvi aquela vozinha baixa e chorosa de Gustavo, meu filhote mais velho (então com três anos), parado na porta do meu quarto e com o short encharcado. “Bom, todo mundo faz xixi, filho. É só acertar o lugar, ou chegar a tempo nele. Chora não, viu? Isso acontece. Vamos trocar a roupa pra sair”. Fiquei comovido com a vergonha de meu filho.
“Papai, derrete um macarrão para mim?” disse Gabriel, meu filhote mais novo (então com cinco anos), pedindo pra fazer um macarrão para ele no café da manhã. “Mas macarrão de manhã! Pra quê?” retruquei o pedido. “Faz pai, favor?!”. Eu fiz o macarrão. Gabriel abriu o pão de sal e colocou dentro uma fatia de presunto e depois o macarrão. “Olha meu misto!” disse ele logo em seguida. Eu me acabei de rir. Detalhe, Gabriel vinha fazendo uma dieta sem lactose há alguns meses. O macarrão era para substituir o queijo. Fiquei bobo com a criatividade do meu filho.
“Você tá com medo?” perguntei a Gustavo (então com nove anos) ao segurar a sua mão, e perceber que suava frio, momentos antes dele entrar na sala de cirurgia onde faria uma intervenção para corrigir um estrabismo. “Tô sim, mas eu vou ficar bom, né? Então tô bem”. Fiquei impressionado com a segurança de meu filho.
“Pai, eu machuquei meu dedinho. Põe um bandeide?” chorava Gabriel (então com seis anos) mostrando o dedo com uma leve picada de mosquito. “Bom, bandeide não vai melhorar isso. Só o tempo mesmo, mas se você vai se sentir melhor, o coloco dessa vez. Agora saiba que esse bandeide é pra quando sai sangue, ok? Se for colocar em toda picada, não vai sobrar nenhum para quando se cortar ou arranhar.” Fiquei surpreso com a carência de meu filho.
É isso aí! Ser pai é tomar sempre a atitude certa no momento certo. É ter sempre a palavra certa na hora certa. Às vezes isso nos falta e erramos, pois nem sempre temos tempo suficiente para pensarmos como agir corretamente. Mas uma solução virá, uma resposta virá. O importante é agir, é participar. Um beijo na testa. Uma palavra rígida. Um tapinha no ombro. Um veto moderado. Um sorriso carinhoso. Uma voz forte. Um escutar concentrado. Um abraço apertado. Um olhar severo. Uma cosquinha no queixo. Uma bronca. Um aplauso. Sempre temos que reagir quando solicitados por nossos filhos. Seja elogiando-os ou repreendendo-os, nós estaremos lhes dando atenção. Isso é o que importa, e isso é o que eles realmente buscam em nós, pais. Esse é o real motivo pelo qual eles nos recorrem. O elo da interação entre pais e filhos se fortalece assim, com essa tal atenção. Nossos filhos sempre querem nos mostrar que estão ali, para o bem ou para mal, não importando o valor desse bem ou a gravidade desse mal. Eles sempre estarão precisando da gente, e nos ensinando algo.
Ser pai é sermos os filhos que fomos ou não fomos, ou sermos o pai que tivemos ou que queríamos ter. Ser pai é nos colocarmos no lugar dos nossos filhos para agirmos como nós queríamos que nossos pais agissem caso estivessem ali naquela situação, apesar de não mais estarem na maioria das vezes. Ser pai é termos a chance de se transportar no tempo e no espaço para talvez solucionar pendências que ficaram para trás, com nós mesmos ou com nossos pais. Mas atenção! Pai, mãe, filho ou filha, naturais ou não, o mais importante é dar sempre o que vocês querem pra si, simplesmente a devida atenção! Pois ser pai é ser filho, e um dia provavelmente esse filho também será um pai.
(texto: Mario Gordilho)
Música: "Pai" - Fábio Jr. (1979)
3 comentários:
lindo o texto e com essa musica melhor ainda. Virei leitor assiduo daqui. Poesia e musica, quer coisa melhor. Tb deixei uma msg de parabens no outro blog.
Obrigado, Gustavo. Sinto-me honrado com suas palavras. Abração. Mario
Realmente concordo com o Gustavo, seus textos são lindos e de uma profundidade que vai na alma.
abraços - agora do Brasil (finalmente).
Fique com Deus ! Pi.
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