sexta-feira, junho 25, 2010

Crônica 04


(foto: Cássio Magne - "Mario Gordilho", 2008)


ESSE MEU JEITO "MULEKE" DE SER

“A juventude não é uma época da vida, é um estado de espírito", frase do escritor Samuel Ullman. Nela, ele disse tudo. Pelo menos para mim. Tais palavras caem como uma luva para a minha pessoa, pois traduzem o meu jeito moleque de ser.

A palavra de origem portuguesa “moleque” vem do quimbundo “muleke”, que significa garoto levado ou rapazote, designa também um indivíduo sem palavra ou sem vergonha, uma pessoa ruim, canalha etc. Bom, na minha concepção de moleque, penso estar enquadrado na primeira definição, apesar de alguns me rotularem na segunda. Isso é previsível, tendo em vista a ambiguidade do verbete.

Sinto-me um moleque de 40 anos. Não só baseado no conceito do Sr. Ullman, como também numa canção que certa vez alguém me disse que se parecia comigo, e que eu acatei. Trata-se da composição “Nature Boy”, de Eden Ahbez (1947), gravada por David Bowie para a trilha do musical “Moulin Rouge” (2001). Segue a letra traduzida:

“Havia um menino
Um estranho e encantador menino
Eles diziam que ele vinha de muito longe
Muito longe, além da terra e mar
Um pouco tímido e os olhos tristes
Mas muito sábio ele era

E então, um dia
Um mágico dia ele cruzou o meu caminho
Enquanto nós falávamos de várias coisas
Tolos e Reis
Uma coisa ele me disse:

- A coisa mais importante que se pode
aprender é apenas amar e em troca ser amado"


Vivo naturalmente, não só na natureza, mas em qualquer lugar. Rio pra quem mereça e fecho-me pra quem não. Penso e ajo conforme as minhas convicções. Se estiver errado, aprenderei o certo, se estiver certo, ensinarei a alguém. Sou assim, a vida vem me tornando assim. Tento amar a todos, agradar a todos, e na maioria das vezes sou correspondido. Sinto-me cada vez mais forte quando consigo conquistar um ser humano. Entristeço-me quando não. Assim vou enfrentando e vencendo os meus medos. Superei os que já me artomentaram, como o da morte e o do desconhecido. Hoje, uma das poucas coisas que temo é a insensatez.

Sei que para algumas pessoas é difícil digerir esse meu comportamento “infantil”. Acho que incomodo por ser translúcido, por estar próximo da minha paz interior e a decifrar o meu eu. Certamente, aqueles que estão longe de atingir tal estágio, têm dificuldade em me compreender, sentem-se atordoados. É mais conveniente enquadrarem-me como imaturo, irresponsável, ou até maldoso. Que pena! Simplesmente tento ser eu mesmo, e assim mantenho-me esse eterno moleque, um “nature boy”.

(texto: Mario Gordilho)

Música: "Nature Boy" - de Eden Ahbez, por Celine Dion (2004)

8 comentários:

Fabio disse...

Conheço esse mero espectador da vida não faz muito tempo mas esta crônica o define perfeitamente, bem como a música "nature boy".

Existem músicas que parecem que foram escritas para determinadas pessoas e esta foi para esse moleque...

Independentemente de qualquer coisa, nunca perca esse seu jeito moleque... Ele é encantador !

E como diz a outra crônica "a igreja, o cavalo e o mar" sobre fotos e ocasiões pq certas fotos são tiradas/registradas, a foto que ilustra esta crônica é um retrato do texto. E foi tirada para que um dia pudesse ilustrar essa linda crônica. Que cara de muleke !!!

MARIO GORDILHO disse...

Valeu, Fá!

sabedoria interior disse...

Oii Mario essa foto sua ta muito bonita,cara de menino grande,felicidades.

MARIO GORDILHO disse...

Valeu amiga!! Beijão... rs

Luiz Antonio disse...

O bom da vida é ser desse jeito mesmo, pois, a pessoa nunca envelhecerá, e o mais importante é que se pode ser tachado de moleque, porém sendo um adulto consciente e responsável. Ótima reflexão nessa crônica! Pelo que li em um dos comentários, a crônica define seu autor, parabéns, então por ser assim...

MARIO GORDILHO disse...

Luiz,

Obrigado pela atenção, elogios e carinho... Estes gestos sempre nos fazem bem pro ego e só nos estimula a escrever mais e mais.

Abração,

Mário

Ligia Mattos disse...

Somos crianças em corpos de adultos!Essa crônica,me faz lembrar a música de Zélia Duncan, "Alma". O trecho:...Crise já acabou.
Livre,já passou o meu temor do seu medo sem motivo.
Alma,daqui do lado de fora,nenhuma forma de trauma sobrevive...
Continue "atordoando" muito "muleke!" Bjo

MARIO GORDILHO disse...

Oh, amiga Ligia. Quão belas, profundas e realistas suas palavras. Agradecido sempre pela sua atenção. Bj no coração
Mario